Alice Sem Maravilhas 6/10 | Namorada Criativa - Por Chaiene Morais
Histórias

Alice Sem Maravilhas 6/10

*Este post faz parte de uma web série. Se você perdeu algum capítulo, encontre-o aqui:





Não demorei para dormir, por mais agitada que estava, eu consegui simplesmente arrumar minha cama apenas uma vez, deitar com a cabeça tranquila e o coração preenchido por um sentimento que ainda não sei o nome, mas espero descobrir em breve. É um sentimento novo, nunca na minha vida alguém tinha me deixado tão abalada como ele. Não é abalada de um ponto de vista ruim. Digo abalada porque ele me fez perceber que posso viver a vida em paz, sem nóias e quem sabe, ser alguém normal um dia, com a felicidade reinando, sem se importar com o que os outros dizem e que alguém pode me aceitar do jeito que sou.
Por mais que tenha pouco tempo que nos conhecemos, aliás, bem pouco tempo, sinto que ele me aceita assim. Desse jeito meio torta, desajeitada e maluca. Talvez seja justamente por isso. Por ter tão pouco tempo. Ele ainda não me conhece a fundo e quando isso acontecer, vai sair correndo igual a todas as outras pessoas que eu pensei que poderia ter uma amizade ou um amor.
Não tenho certeza se vou encontra-lo amanhã, quando disse que tenho muitas coisas para fazer, era pura mentira. Não tenho absolutamente nada. Minha vida se resume a faculdade e casa. Encontra-lo novamente significaria que até lá muitos rituais seriam realizados e para dizer a verdade, é tão cansativo. Confesso que passo mais da metade do meu dia agindo de um jeito que eu não sei explicar. É como se “morasse” duas pessoas dentro de mim. Eu e meu eu desconhecido. O desconhecido é aquele que comanda as minhas ações e diz tudo que devo fazer e repetir. Tudo tem que estar perfeito, nos mínimos detalhes e alinhado com o fluxo do universo. E eu, bem, não tenho voz. Não posso ignorar os mandamentos do meu “eu desconhecido”. Todas as vezes que eu relevei sua voz gritando dentro de mim, coisas horríveis aconteceram. É verdade, não estou exagerando. Você deve estar pensando como sou louca e que minha mãe tem razão. Primeiro, eu não sou louca. Só tenho muito conflito interior e passo por algumas dificuldades comigo mesma. Em determinadas situações, já acostumei viver assim, mas em outras, eu choro de tanto desespero porque não vejo saída. E segundo, a minha mãe não sabe de tudo. Nem pode saber. Promete que não vai contar?
No meio desses devaneios, adormeci. Sonhei com o Vinícius a noite toda. Seus olhos iluminaram a minha noite, o som da gargalhada dele era música para os meus ouvidos e nos beijamos de novo. E de novo… Era como se ele tivesse passado a noite do meu lado. Acordei com o barulho do meu celular. Não era o despertador. Meu despertador não tocava “A great big world”. Era uma mensagem dele.
Bom dia, Alice das minhas maravilhas. Estarei te esperando no nosso lugar. Não foge, tá? Pode achar que não, que sou maluco, mas já estou com saudades. Estou contando as horas!
Na hora que li isso, meu coração saiu pela boca e tive que engoli-lo novamente. Por um momento pensei que ainda estava sonhando. Pisquei duas vezes para certificar de que estava realmente acordada. Como ele pode ser tão fofo, lindo e maravilhoso assim? Levantei da cama dançando de felicidade. Quem nunca dançou quando recebeu uma mensagem de alguém querido, que atire a primeira pedra. Pulei, sorri e até cantarolei. “Hoje só tua presença vai me deixar feliz, só hoooje!”


Não sabia como responder. Não sou boa com essas coisas. Toda essa informatização tira um pouco da magia dos momentos físicos. Sou meio careta. Gosto de coisas antigas, amores à moda antiga. Costumo dizer que quero um amor antigo em tempos modernos. Cartas, sentar no banco da praça no domingo, tomar sorvete aos sábados. Todas essas coisas de Grease.
“Bom dia, Vi! Também estou com saudade…”  foi só o que eu consegui dizer. Espero que ele não se chateie.
Tomei meu café da manhã preferido. Aliás, minha comida preferida. Coxinha e Coca Cola. Eu sei que não é nada saudável, ainda mais no café da manhã, mas num dia feliz como esse, eu merecia, né? Troquei de roupa, coloquei uma blusa branca simples, com um casaco rosa claro, uma calça jeans e sapatilhas. Prendi o cabelo num coque alto e bagunçado. Acho que estou até bonitinha e apresentável. Com tanta felicidade já estava atrasada para a aula. O primeiro horário é de metodologia científica e não posso chegar atrasada. Hoje também é aquele dia cansativo de horário integral. Será que meu coração aguentaria até mais tarde?
Como já era de se esperar, meu “eu interior” gritava. “Alice, para com isso. Não vista esse casaco. Seu dia vai ser um azar. Esqueceu qual foi a última vez que usou? Lembra o que aconteceu naquele dia? Tira isso logo e não fique tão feliz assim.” Caramba. Que coisa chata. Mas eu lembrava da última vez que usara aquele casaco. Foi no dia em que aquele menino estúpido da minha sala de cálculo ouviu boatos sobre mim e quis divertir a todos às minhas custas. Chega, não adianta me apegar àquele dia. Dessa vez, resolvi ignorar mesmo com medo. Vesti o casaco e fechei o armário, trancando aquela voz que só eu ouvia lá dentro junto com as roupas.
Fui para a faculdade a pé e pela primeira vez consegui fazer o percurso simples, nada de não pisar nas linhas, andei como alguém normal e sem neuroses. Isso já era efeito dele sobre mim? Não estou dizendo que ele é a minha cura, mas em partes, é como se fosse. Depois de tê-lo conhecido, não sinto tanto medo em relação as coisas que me cercam e o que pode acontecer comigo. Fiquei um pouco mais segura e pelo fato de não parar de pensar nele, todos os meus pensamentos invasivos foram esvaziando minha mente ao ponto de conseguir uma paz totalmente considerável que eu não conhecia há anos.
As aulas passaram arrastadas. Durou quase meio século e eu não via a hora de ir embora, mesmo em dúvidas. Iria encontra-lo ou não? Metade do meu corpo dizia, gritava e implorava que sim. A outra metade era só medo e desespero. Medo de ser decepcionada de novo e desespero por correr o possível risco dele descobrir cada vez mais sobre meu “eu desconhecido”.
O relógio marcou a tão esperada hora e eu nem precisei questionar-me de novo. Minhas pernas levantaram apressadas da cadeira e me guiaram até onde meu coração queria estar. Acho que vi um anjo…

O que estão achando da web série? Sua opinião é de extrema importância pra gente. Conte-nos o que gostaria que acontecesse com os nossos personagens! 


*Essa web série está sendo escrita em conjunto pela Gabi Piva e Mari Guimarães. Serão postadas duas vezes por semana, na segunda-feira e sexta-feira. Não percam! Prometo que não vão se arrepender! <3
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  • Melissa Oliveira 30 de dezembro de 2014

    Nossa! Que fofinho, tudo isso. É um tanto ilusório, mas é uma daquelas histórias que prendem o nosso coração, sabe? *-*
    Vocês escrevem muito bem!